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Tóitulo de artigo sobre síncopes ou desmaios mostrando uma pessoa sendo socorrida

Síncope ou desmaio: o que pode ser?

Síncope é o termo técnico para o que conhecemos como desmaio. Síncope ou desmaio são eventos transitórios de perda de consciência com perda do tônus muscular, ou seja, da capacidade de manter-se em pé. Geralmente estão associados a falta de fluxo sanguíneo adequado para o cérebro.

A síncope pode acontecer em qualquer idade, principalmente na adolescência e início da idade adulta e nos idosos. É mais comum em mulheres e atinge até 40% da população ao longo da vida.

São episódios de curta duração, geralmente com recuperação rápida e completa. Mas a síncope é um sintoma e não uma doença em si. Pode indicar desde condições benignas até doenças mais graves, que precisam de atenção. Além disso, pode ser confundida com outras condições, como convulsão e ataque isquêmico transitório (AIT).

Síncope ou desmaio são sinônimos e indicam a perda transitória de consciência e do tônus muscular. São indicativos de que há algo errado com o corpo e podem ser causados por condições cardíacas ou neurológicas, desde benignas até mais graves.

Lipotímia ou pré-síncope é a sensação de que um desmaio ou síncope vai acontecer, mas que não acontece ou é prevenido por medidas comportamentais.

Nesse artigo, vamos explorar quais são as características das síncopes, as principais causas, como agir em casos de desmaio, quando é preciso investigar com um médico e os possíveis tratamentos.

Antes de seguir, veja esse caso clínico de exemplo de uma síncope para ajudar a entender do que estamos falando e no final voltaremos a falar dele.

Um caso de desmaio
Uma mulher de 25 anos vai a consulta com neurologista devido histórico de 2 anos de episódios de perda transitória de consciência recorrentes a cada 1 ou 2 meses. Os episódios ocorrem em pé, geralmente em clima quente, e uma vez durante o banho. Geralmente percebe um calor repentido, tem náuseas e tontura, e sente que a audição esta abafada, a pele úmida e a visão periférica turva, embaçada. Ela geralmente recupera a consciência em 30 segundos, sem nenhuma alteração após. Está preocupada se tem algo grave, um tumor na cabeça ou algo assim.

O que é e como acontece a síncope?

Síncope ou desmaio é uma condição transitória de perda de consciência e do tônus muscular, que leva à queda se a pessoa não for apoiada.

Ela é resultado da falha em manter o fluxo sanguíneo de sangue adequado para as funções do cérebro.

Imagine a seguinte situação: o cérebro é uma “máquina” que precisa receber aporte de nutrientes e oxigênio continuamente. Esse aporte chega através do sangue que é bombeado contra a gravidade. Se por algum motivo, esse aporte não chega, a “máquina” pára em poucos segundos, resultando no desmaio. Ao cair e ficar com o corpo na posição horizontal, o sangue chega mais facilmente ao cérebro, pois não precisa vencer a gravidade, e a “máquina” reinicia.

Quando o fluxo de sangue para o cérebro atinge níveis críticos, a perda de consciência ocorre em cerca de 7 segundos.

Sintomas das síncopes e desmaios

Apesar de parecer óbvio, os sintomas das síncope podem ser confundidos com de outras condições. Por isso, durante a consulta para avaliar desmaios, é importante detalhar as circunstâncias em que o evento aconteceu, o que sentiu antes, durante e após o desmaio. É fundamental conhecer o ponto de vista de quem presenciou a síncope porque nem sempre o próprio paciente lembra de tudo.

Para facilitar, vamos dividir os sintomas de síncope em três momentos: antes, durante e depois.

Pré-Síncope: sintomas que antecedem a síncope

Os sintomas prodrômicos são aqueles que ocorrem antes de um episódio de síncope ou desmaio e podem incluir:

  • Tontura
  • Visão turva/embaçada
  • Náusea ou enjoos
  • Suor frio e excessivo
  • Palidez
  • Sensação de calor ou frio
  • Fraqueza
  • Confusão mental e dificuldade de concentração
  • Dificuldade para falar
  • Sensação de cabeça leve
  • Dor no pescoço
  • Audição abafada
  • Vontade urgente de evacuar

Esses sintomas acontecem segundos a poucos minutos antes da síncope. São geralmente leves e podem ser ignorados (ou esquecidos após o desmaio). No entanto, é importante estar atento a eles e procurar ajuda, movimentar as pernas ou se deitar para evitar a síncope.

Sintomas de aviso de desmaio acontecem segundos antes da crise e indicam que um desmaio esta prestes a acontecer.

Chamamos esse conjunto de sintomas de pré-síncope ou lipotímia: sensação de que um desmaio vai acontecer, mas que não acontece ou é prevenido por medidas comportamentais, como sentar-se ou deitar-se.

Se nada for feito e a pressão baixar mais, o desmaio acontece.

Síncope: a perda de consciência

A síncope é a perda transitória de consciência e do tônus muscular, que leva à queda se a pessoa não for apoiada.

A perda de consciência corresponde a falta total de resposta a estímulos externos como sons, toque ou dor e ausência de movimentos voluntários.

No caso da síncope, dura segundos quando o paciente cai, mas pode demorar mais se a pessoa, por algum motivo, for impedida de ficar deitada.

Como a síncope envolve queda, pode levar a traumas, como hematomas e fraturas, especialmente nos idosos. 

Cerca de 10% das síncopes levam a lesões.

No vídeo abaixo podemos ver um exemplo de uma síncope acontecendo após o exercício. No momento em que a atleta pára, começa se sentir mal e desmaia:

Pós-síncope: a recuperação do desmaio

Em geral, a síncope é rápida, com duração de segundos, e a pessoa recupera completamente a consciência em segundos, sem nenhuma confusão ou outra alteração. No entanto, pode não se lembrar bem do que aconteceu.

Quando a pessoa fica confusa por algum tempo ou não recupera completamente a consciência, o quadro pode não ser síncope e precisa ser avaliado.

Diferença entre síncope/desmaio e convulsão

Uma confusão comum dos desmaios é com as convulsões. Enquanto alguns casos podem ser óbvios, em outros apenas diferenças sutis separam uma da outra.

Os sintomas que antecedem e os que ocorrem durante a crise são fundamentais para separar as duas condições. Por isso, o relato de quem presenciou o evento é importante.

Na tabela abaixo, detalhei as principais diferenças:

 Síncope / DesmaiosConvulsões / Crises Epilépticas
DefiniçãoPerda temporária de consciência e tônus muscular  por fluxo sanguíneo para o cérebro insuficiente.Episódios súbitos de atividade elétrica anormal no cérebro que podem causar alterações no comportamento, movimentos ou sentimentos.
Gatilhos comunsDesidratação, levantar-se muito rápido, esforço excessivo, dor intensa, estados emocionais fortes, alguns medicamentos.Febre alta (em crianças), infecções, distúrbios do sangue (sódio, cálcio, …) abuso ou abstinência de álcool, privação de sono, estresse emocional, uso de drogas
Sintomas comunsVisão embaçada, tontura, palidez, suor frio, sensação de cabeça leve, seguidos de perda de consciência e quedaMovimentos involuntários repetitivos dos membros, acompanhados ou não de perda de consciência. Olhar parado e falta de respostas. Mordidas na língua ou bochecha. Perda de controle da bexiga ou intestino.
DuraçãoA perda de consciência dura segundos.de segundos a poucos minutos, até quadros prolongados de horas.
RecuperaçãoImediata, sem confusãoCom sonolência e confusão, respiração barulhenta, dor de cabeça e no corpo.

Um aviso importante: as características da tabela são gerais, mas alguns casos podem ser mais difíceis de diferenciar. O autodiagnóstico pode ser perigoso. Por isso, uma avaliação de um especialista é sempre necessária, tanto para os diagnósticos diferenciais de síncope quanto para investigar a causa e orientar o tratamento.

Síncope convulsiva

Apesar de movimentos involuntários dos membros serem uma característica marcante da crise epiléptica, alguns movimentos rápidos podem acontecer na síncope. A situação é chamada de síncope convulsiva.

A síncope pode durar de alguns segundos a alguns minutos. Quando a pessoa recupera a consciência, pode sentir-se confusa, desorientada e fraca.

Existem muitas causas diferentes de síncope, incluindo:

  • Problemas cardíacos
  • Problemas neurológicos
  • Hipotensão (pressão arterial baixa)
  • Hipoglicemia (baixo nível de açúcar no sangue)
  • Desidratação
  • Anemia
  • Excesso de álcool
  • Medicamentos
  • Fadiga
  • Estresse emocional

Se você tiver episódios de síncope, é importante consultar um médico para determinar a causa e receber o tratamento adequado.

Causas – porque acontece a síncope?

A consciência humana precisa de uma perfusão de sangue contínua para sustentar o funcionamento dos neurônios. Manter a pressão arterial em níveis suficientes para essa perfusão cerebral a cada instante contra a força da gravidade e em resposta às mudanças dinâmicas do fluxo de sangue por todo o corpo exige o funcionamento adequado de um conjunto complexo de mecanismos de regulação automática da pressão arterial, frequência cardíaca, contração dos vasos, entre outros.

A falha desses mecanismos resulta na síncope. Essa falha pode acontecer em diversas situações:

Síncope vasovagal

A síncope vasovagal é o tipo mais comum de desmaio, que ocorre devido uma disfunção reflexa na comunicação entre o sistema nervoso autônomo e o sistema cardiovascular, levando à queda da pressão arterial e consequentemente à hipoperfusão cerebral (diminuição do fluxo sanguíneo no cérebro).

Esse tipo de síncope pode ser desencadeado por gatilhos emocionais ou físicos, como medo intenso, dor, ficar muito tempo em pé em ambientes quentes, desidratação, tosse forte ou esforço para evacuar.

É o tipo de desmaio que acontece ao ver agulha ou sangue, por exemplo.

Síncopes situacionais

Algumas situações específicas podem causar desmaios também por disfunção reflexa, como desmaios ao evacuar, urinar e até tossir ou engolir.

Síncope ortostática ou Hipotensão Postural

Esse tipo de síncope ocorre após alguns segundos até minutos após levantar da posição deitada ou sentada para em pé. 

É mais comum em pessoas com pressão baixa, idosos e pessoas que tomam certos medicamentos.

Entre os medicamentos, diuréticos, alguns antidepressivos, remédios para pressão alta e para próstata aumentam o risco de síncopes por hipotensão postural.

Arritmias cardíacas

Batimentos cardíacos irregulares, muito rápidos ou lentos podem comprometer o bombeamento de sangue para o cérebro, levando ao desmaio. Nesses casos, o desmaio pode ocorrer repentinamente, sem os sintomas de aviso, como tontura, visão embaçada e outros, ou pode ser precedido por palpitações.

Pessoas que já tem problemas cardíacos tem maior chance de síncope por arritmias. Essa é uma causa potencialmente grave, que pode levar a inclusive a óbito.

Outras doenças cardíacas e pulmonares

Além das arritmias, doenças da estrutura do coração ou da circulação podem causar síncope por reduzir o fluxo de sangue para o cérebro. Algumas delas são:

  • Infarto do miocárdio
  • Estenose aórtica
  • Cardiomiopatia hipertrófica
  • Embolia pulmonar (obstrução de artéria do pulmão por trombo)
  • Hipertensão pulmonar grave

Epilepsia

As crises epilépticas não causam síncope pois não reduzem o fluxo sanguíneo do cérebro, mas podem levar a um quadro de perda de consciência muito semelhante.

Como já dissemos, observar as características dos desmaios ajuda a diferenciar síncope de crise epiléptica. Mas nem sempre isso é possível apenas pela observação, precisando de exames complementares.

Outras doenças neurológicas

Raramente, estreitamentos graves nos vasos sanguíneos do pescoço ou crânio podem causar síncope. Alguns tipos de AVC mais graves também podem levar a perda de consciência e serem confundidos com desmaios.

Outras condições neurológicas que podem causar síncope são a síndrome do roubo da subclávia e a Atrofia de Múltiplos Sistemas.

O que fazer se alguém desmaiar?

  1. Deite a pessoa de costas e levante suas pernas: Isso ajuda a aumentar o fluxo sanguíneo para o cérebro.
  2. Afrouxe roupas apertadas: Para facilitar a respiração.
  3. Verifique se a pessoa respira: Se não estiver respirando, peça ajuda e inicie a reanimação cardiopulmonar (RCP) se souber.
  4. Chame ajuda médica imediatamente: Mesmo que a pessoa recupere a consciência rapidamente, é importante procurar um médico para investigar a causa do desmaio.

Quando procurar um médico?

As síncopes são comuns e benignas na maior parte dos casos, mas é importante procurar um médico para investigar a causa e receber orientações sobre como prevenir novos desmaios. Algumas causas tem tratamentos específicos fundamentais para evitar consequências graves.

Algumas situações indicam ainda maior urgência em procurar ajuda, como quando:

  • A síncope é frequente
  • Houver lesões durante a queda.
  • A pessoa tiver histórico de problemas cardíacos.
  • O desmaio ocorrer durante o exercício ou sem motivo aparente.
  • Houver dor no peito, falta de ar ou outros sintomas preocupantes.

Quais são os exames necessários para investigar síncope e desmaio?

Para investigar as causas de uma síncope, podem ser solicitados uma variedade de exames que serão definidos com base nos sintomas, no exame físico e no histórico médico do paciente. 

Entre os exames, podem ser solicitados:

  • Testes cardiológicos: exames como eletrocardiograma (ECG) e Holter avaliam o ritmo cardíaco em busca de sinais de arritmias, enquanto o ecocardiograma avalia a estrutura e função cardíaca.
  • Exames laboratoriais: exames de sangue podem ser usados para descartar causas como anemia ou distúrbios metabólicos, que podem contribuir para as síncopes
  • Exames neurológicos: eletroencefalografia (EEG), ressonância e estudo dos vasos sanguíneos por doppler, tomografia ou ressonância fornecem informações sobre as causas neurológicas
  • Tilt test: esse exame avalia as síncopes neuromediadas, como a vasovagal e a resposta do organismo. Pode ser indicado para identificar a causa da síncope e para diferenciar de outras condições

Tratamento e Prevenção de Síncopes e Desmaios

O tratamento para síncope e desmaios depende de causa subjacente. 

A abordagem pode variar desde medidas simples de estilo de vida até intervenções mais complexas.

Algumas possíveis opções de tratamento incluem: 

  • Medidas de estilo de vida: Em muitos casos, pequenas mudanças no estilo de vida como aumentar a ingesta de líquidos, evitar situações de estresse ou calor excessivo, evitar gatilhos, usar meias compressivas e evitar ficar muito tempo em pé podem ser suficientes.
  • Fisioterapia: Em alguns casos, a fisioterapia, incluindo exercícios específicos, pode ser recomendada para ajudar a gerenciar certas causas de síncope.
  • Medicação: Determinadas condições que podem causar síncope, como hipotensão postural grave, arritmias cardíacas ou problemas neurológicos, podem ser tratadas com medicamentos. Por outro lado, alguns medicamentos podem precisar de substituição por aumentarem os riscos de desmaios.
  • Procedimentos: Em casos mais graves ou persistentes de síncope, podem ser necessários procedimentos médicos, como a implantação de um marcapasso ou a ablação cardíaca.

Quando sentir os sintomas prodrômicos, de aviso de desmaio, é importante procurar sentar ou se deitar. Se possível, realizar exercícios como cruzar as pernas, agachamentos, fletir o pescoço e puxar os punhos. movimentar as pernas e procurar ajuda.

Exercícios de agachamento, cruzar as pernas e fazer preensão dos dedos ajuda a prevenir um desmaio iminente
Algumas manobras como agachar, cruzar as pernas ou puxar as mãos como nas figuras acima ajuda a prevenir uma síncope iminente.

Vale destacar que cada caso é único e o tratamento deve ser individualizado, conforme a avaliação do neurologista ou cardiologista.

Conclusão

As síncopes e desmaios são sintomas que podem representar diferentes condições, geralmente benignas, como no caso clínico que vimos no início desse texto: um caso clássico de síncope vasovagal. A avaliação médica é importante para investigar causas e indicar o melhor tratamento.

Dúvidas comuns sobre a Síncopes e Desmaios


Desmaios sempre indicam um problema grave de saúde?

Não, a maioria dos desmaios é benigna e não indica doenças graves, mas é importante investigar a causa para descartar problemas sérios.

Pessoas que desmaiam devem evitar atividades físicas?

A prática de atividades físicas geralmente é segura e benéfica para pessoas que desmaiam, desde que a causa tenha sido investigada e tratada adequadamente. Em alguns casos, pode serem recomendadas algumas restrições ou adaptações nas atividades.

Desmaios são mais comuns em mulheres?

Sim, estudos mostram que mulheres jovens são mais propensas a desmaios do tipo vasovagal, numa proporção 1,5:1

Todos os desmaios são iguais?

Existem diferentes tipos de desmaio, cada um com suas próprias causas e características. O tipo mais comum é a síncope vasovagal, mas também existem desmaios causados por arritmias cardíacas, problemas neurológicos, medicamentos e outras condições.

Desmaio é a mesma coisa que convulsão?

Desmaio e convulsão são condições diferentes. O desmaio é uma perda breve da consciência causada pela diminuição do fluxo sanguíneo no cérebro, enquanto a convulsão é uma alteração elétrica anormal no cérebro que pode causar movimentos involuntários, perda de consciência e outros sintomas. No entanto, em alguns casos, o desmaio pode ser acompanhado de movimentos involuntários semelhantes a uma convulsão, o que pode dificultar o diagnóstico.

Fontes:
Syncope: Therapeutic Approaches
Syncope in adults: Epidemiology, pathogenesis, and etiologies – Uptodate
Syncope – Continuum Lifelong Learning in Neurology

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Diagnósticos e Tratamentos devem ser individualizados.

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