As doenças do coração estão intimamente ligadas às doenças do cérebro e as arritmias cardíacas, como a fibrilação atrial e o flutter atrial, estão entre as principais causas de AVC isquêmico.
Nesse artigo, vamos discutir o que são as arritmias, como elas causam AVC e como prevenir essa complicação.
- Acidente Vascular Cerebral – Sintomas, causas, prevenção e tratamento
- Dr Luiz Fernando Oliveira – Especialista em AVC
O que é arritmia cardíaca?
A arritmia cardíaca é uma condição na qual o coração apresenta um ritmo anormal, ou seja, batimentos que são muito rápidos, muito lentos ou irregulares. Nosso coração normalmente bate em um ritmo regular e coordenado, impulsionando o sangue para todo o corpo. No entanto, quando ocorre uma arritmia, esse ritmo pode ser perturbado, comprometendo o bombeamento adequado do sangue.
Existem vários tipos de arritmia, que podem ser divididos de maneira simplificada da seguinte forma:
- Taquicardia: é quando o coração bate mais rápido do que o normal, geralmente acima de 100 batimentos por minuto.
- Bradicardia: é quando o coração bate mais devagar do que o normal, abaixo de 60 batimentos por minuto.
- Fibrilação atrial: é uma arritmia comum em que os átrios (câmaras superiores do coração) apresentam um ritmo irregular e descoordenado.
- Flutter atrial: é uma arritmia semelhante à fibrilação atrial, mas com um ritmo mais organizado, embora ainda anormal.
Todos os tipos de arritmia podem levar a alguma repercussão no funcionamento do cérebro, mas as principais “culpadas” pelos casos de AVC isquêmico são a fibrilação atrial e o flutter atrial.
Sintomas das arritmias
Os sintomas das arritmias dependem do seu tipo, localização e intensidade.
Algumas arritmias são benignas e não causam sintomas ou complicações. Outras podem ser graves e provocar palpitações, falta de ar, tontura, desmaio e até mesmo parada cardíaca.
Elas também podem aumentar a chance de formação de coágulos e causar AVC isquêmico.
Relação entre arritmia e AVC
Para entender essa relação, vamos rapidamente revisar como é funcionamento do coração:
O coração humano é um músculo que bombeia sangue para o corpo todo e é formado por quatro câmaras: dois átrios e dois ventrículos.
Os átrios ficam na parte de cima e os ventrículos ficam na parte de baixo. Quando os átrios se contraem, o sangue passa para os ventrículos. Quando os ventrículos se contraem, o sangue deixa o coração para o pulmão e para o corpo.
Esse ciclo é regulado por um sistema de condução que coordena a contração de cada uma dessas câmaras, para que a passagem de sangue seja eficiente. Veja na imagem abaixo um exemplo do ritmo cardíaco normal, regular e coordenado:
Nas arritmias, o sistema de condução está desregulado. Dependendo do tipo de problema, o sangue deixa de ser bombado de maneira correta.
A arritmia mais comum é a fibrilação atrial, conhecida também como FA. Nesse caso, os átrios não contraem corretamente e de maneira coordenada com os ventrículos, provocando estagnação de sangue no seu interior.
O sangue estagnado tende a coagular e quando um coágulo se desloca do coração para as artérias, podem chegar ao cérebro e causar AVC isquêmico.
Veja na animação abaixo, a formação de um coágulo no átrio esquerdo, de onde pode se descolara para a circulação sanguínea cerebral e causar AVC.
Outra arritmia atrial importante é o flutter atrial, que também provoca estagnação do sangue no coração e AVC.
O que é a fibrilação atrial?
A fibrilação atrial, conhecida como FA, é uma arritmia em que os átrios se contraem de maneira ineficiente, levando a estagnação de sangue, com risco aumentado de AVC.
É a arritmia cardíaca mais comum e afeta mais de 2 milhões de brasileiros. É uma condição que aumenta de frequência com a idade e tem grande associação com hipertensão e outras doenças como:
- Doenças das valvas cardíacas (valvopatias)
- Insuficiência cardíaca
- Cardiomiopatia hipertrófica
- Defeito do septo atrial e outras cardiopatias congênitas
- Apneia do sono
- Obesidade
- Diabetes
- Síndrome metabólica
- Doença renal crônica
Sintomas e diagnóstico da fibrilação atrial
Muitas pessoas vivem com FA e não sabem. Outros podem ter sintomas como palpitações e falta de ar. Mas a principal complicação é o AVC isquêmico.
Ter fibrilação atrial aumenta até 5 vezes o risco de AVC. AVCs causados por FA tendem a ser mais graves e com maior mortalidade.
Além do AVC, a FA aumenta o risco de isquemia cerebral silenciosa, insuficiência cardíaca e esta associada a vários tipos de demência.
Por isso, é tão importante a avaliação médica. O risco individual de AVC precisa ser estratificado para definir a melhor estratégia de tratamento.
A FA pode ser diagnosticada com um simples eletrocardiograma, mas alguns casos exigem monitorização por mais tempo, como no Holter de 24hrs. Isso porque a fibrilação pode ser persistente ou permanente, ou seja, ser contínua, ou pode ser paroxística e aparecer de tempos em tempos.
Como prevenir o AVC relacionado à arritmia?
A prevenção do AVC relacionado à arritmia envolve controle dos fatores de risco, tratamento da arritmia e uso de medicamentos anticoagulantes, conforme cada caso.
Os principais fatores de risco que podem ser controlados incluem:
- Hipertensão arterial
- Diabetes
- Colesterol alto
- Tabagismo
- Apneia do Sono
- Obesidade
- Sedentarismo
- Estresse
O tratamento da arritmia depende do tipo, da causa e da gravidade da alteração. Ele pode incluir o uso de medicamentos antiarrítmicos, que controlam o ritmo cardíaco, ou de procedimentos invasivos, como a ablação por cateter, que elimina o foco da arritmia.
O uso de medicamentos anticoagulantes é indicado para os pacientes com fibrilação atrial que já tiveram AVC ou que têm alto risco de formação de coágulos e AVC. Esses medicamentos impedem que o sangue coagule e reduzem as chances de um evento tromboembólico. Os anticoagulantes mais usados são a varfarina e os novos anticoagulantes orais, como a dabigatrana, a rivaroxabana, a apixabana e a edoxabana,
O médico deve avaliar cada caso e prescrever o melhor tratamento para cada paciente, levando em conta os benefícios e os riscos dos medicamentos. Quem usa anticoagulante precisa fazer acompanhamento regular e seguir as orientações médicas.
Fontes:
Heart and Stroke
UpToDate.com – Stroke in Patients with Atrial Fibrillation
UpToDate.com – Atrial Fibrillation Overview
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