Dizem que o AVC (acidente vascular cerebral) não aparece sem avisar, mas isso nem sempre é verdade. O ataque isquêmico transitório é uma condição que pode ser um sinal de que há risco de AVC, tornando-se uma grande oportunidade de prevenção. Vamos entender melhor…
O Ataque Isquêmico Transitório também pode ser conhecido por outros termos, como “princípio de AVC”, “começo de AVC”, “mini AVC”, “ameaça de AVC”, “começo de derrame”, “mini derrame”, AVC transitório, entre outros.
O que é Ataque Isquêmico Transitório?
Também conhecido como AIT, o ataque isquêmico transitório é uma condição em que há interrupção temporária do fluxo de sangue para o cérebro, causando sintomas semelhantes aos do AVC, mas que se revertem em minutos ou poucas horas, sem deixar sequelas.
Isso acontece porque uma obstrução nas artérias cerebrais causa falta de oxigênio para os neurônios e pode levar à sua morte. No AIT, como essa obstrução é apenas temporária, os sintomas melhoram assim que ela se resolve.
Antigamente usávamos o limite de 24hrs até a melhora dos sintomas para considerar como AIT. Hoje a definição mudou: consideramos AIT quando os sintomas revertem e não se formam isquemias (lesões decorrentes da falta de oxigênio para os neurônios) na tomografia ou ressonância magnética.
O importante é que essa condição pode ser um sinal de risco iminente de AVC, já que a interrupção do fluxo sanguíneo cerebral pode acontecer de novo se o motivo que a causou não for tratado.
Qual a diferença entre AVC e AIT?
Os fatores de risco e as causas são semelhantes, mas a diferença entre AIT e AVC é a formação de infarto cerebral, ou seja, lesão cerebral causada pela falta de sangue com oxigênio e nutrientes.
No caso do AVC, um trombo ou coágulo causa interrupção do fluxo sanguíneo que persiste até causar lesão irreversível. Por outro lado, no AIT, o coágulo se desfaz ou é deslocado, levando à reversão espontânea da obstrução do vaso sanguíneo e à melhora dos sintomas, com ausência de infarto cerebral.
Risco de AVC depois de um AIT
As causas que levam ao AIT são as mesmas que levam ao AVC. Assim, o AIT é um importante aviso e uma grande oportunidade de prevenção!
As estatísticas mostram:
- Cerca de 15% de todos os AVC são precedidos por um AIT
- Entre os pacientes tratados com AVC isquêmico, até 40% relatam ter tido um AIT antes.
- A cada 3 pacientes que tiveram AIT, um terá um AVC mais grave em um ano
Quando avaliamos um paciente com AIT, podemos usar escalas como a ABCD2 para tentar estimar o risco de AVC nos próximos dias. Essa escala avalia vários fatores, como idade, valores da pressão arterial, características e duração dos sintomas e presença de diabetes. Com esses dados, estimamos o risco de AVC.
Pacientes classificados como alto risco têm até 8% de chance de AVC em 2 dias e devem ser internados para avaliação. O risco de AVC em 3 meses pode chegar a 18%!
Por isso, o reconhecimento, investigação e tratamento adequado são fundamentais.
Fatores de risco para o ataque isquêmico transitório
O risco de AIT, assim como o de AVC, aumenta com a idade e com a presença de algum fatores, como:
- Idade avançada
- Hipertensão arterial (pressão alta)
- Diabetes
- Tabagismo
- Fibrilação atrial (arritmia cardíaca)
- Estenose de carótida
- Insuficiência cardíaca
- Dislipidemia (colesterol alto)
- Obesidade
- Sedentarismo
Quais os sintomas do AIT
Os sintomas do AIT são os mesmos do AVC. Da mesma forma, aparecem de repente. Podem ser:
- Desvio do rosto, com “boca torta”
- Dormência ou fraqueza no rosto, braços ou pernas, apenas de um lado do corpo
- Dificuldade de falar ou entender palavras (afasia), fala enrolada ou “arrastada”
- Dificuldade de andar
- Tontura, perda de coordenação e equilíbrio
- Dificuldade de visão com um ou os dois olhos
Assim que os sintomas aparecem, é muito importante procurar atendimento com urgência, mesmo que os sintomas tenham melhorado!
Diagnóstico e Investigação da causa do AIT
Os pacientes que apresentam sintomas de AIT devem ser tratados imediatamente. Até a reversão dos sintomas, não é possível diferenciar de AVC.
O diagnóstico é feito após avaliação clínica e exame físico neurológico que mostrem que os sintomas resolveram completamente. Alguns exames de sangue podem ser necessários para descartar outros diagnósticos que podem simular um AIT, como infecções, enxaqueca com aura, crise epiléptica ou hipoglicemia.
Para confirmar que não existe infarto cerebral e realmente se trata de um AVC, é necessário um exame de imagem, como tomografia de crânio ou ressonância magnética.
Além desses exames, como sabemos que quem teve AVC têm risco aumentado de ter AVC nos dias seguintes, outros exames são indicados para investigar as causas e permitir o tratamento, como:
- Eletrocardiograma
- Holter 24hrs
- Ecocardiograma transtorácico
- Doppler de carótidas e vertebrais
- Angiotomografia de crânio e pescoço
- Angioressonância de crânio e pescoço
- Polissonografia
- Exames de sangue, como glicemia, perfil lipídico, provas de coagulação e inflamação, etc…
Tratamento do AIT e Prevenção do AVC
Como no AIT, os sintomas melhoram espontaneamente, geralmente não têm tratamento específico.
No entanto, a investigação da sua causa pode revelar alterações que podem ser tratadas para prevenir novos AITs ou AVC no futuro:
- Anticoagulantes podem ser indicados em caso de trombos provenientes do coração, como em algumas arritmias ou no caso de insuficiência cardíaca grave.
- Angioplastia com stent da carótida ou endarterectomia ajuda a prevenir AVC em pacientes que tenham estreitamentos nas carótidas por placas de colesterol.
- Antiplaquetários como AAS (aspirina) e estatinas (atorvastatina, rosuvastatina) são geralmente usados para diminuir o risco de AVC
- Outras causas mais raras como dissecção de carótidas, displasia fibromuscular, vasculites, trombofilias, entre outras, recebem tratamento específico.
Se nenhuma causa for encontrada, a maioria dos pacientes recebe alta com prescrição de um antiplaquetário, como o AAS (aspirina), que ajuda a prevenir o AVC.
Além disso, é indicado controle de fatores de risco como tratamento do diabetes e pressão alta, alimentação saudável e atividade física regular.
Conclusão
O ataque isquêmico transitório é uma condição muito semelhante ao AVC mas com reversão completa dos sintomas. Deve ser tratado com urgência, visto que o risco de AVC após o AIT é alto. A investigação pode revelar uma grande oportunidade de prevenir consequências graves e sequelas permanentes.
Fontes:
Fonte:
American Stroke Association
British Medical Journal Best Practice
The ABCD, California, and unified ABCD2 risk scores predicted stroke within 2, 7, and 90 days after TIA – PubMed (nih.gov)
Diagnósticos e Tratamentos devem ser individualizados.
Agende sua consulta para uma avaliação!